Falando de Funções Executivas! O que é isso?
Questões relacionadas às funções
executivas podem chegar aos consultórios de formas diferentes. Geralmente, um
paciente com determinadas queixas primárias, podem trazer como sintoma
secundário o rebaixamento das funções executivas. Exemplo disso são os quadros
ansiosos ou depressivos.
Por vezes, os pacientes chegam com queixas específicas das funções executivas como: controle de comportamento (impulso), baixa tolerância a frustrações, dificuldade no planejamento da vida, dificuldade nos relacionamentos etc.
Algumas vezes, vemos as funções executivas chamadas por outros nomes, como auto regulação ou inteligência emocional. Importante saber que nem sempre serão sinônimos, uma vez que as funções executivas englobam uma gama de mecanismos maiores.
O uso das Funções Executivas é preponderante no dia a dia das pessoas, mas sabemos que o cérebro é econômico e usar as Funções Executivas exige muita energia e trabalho do cérebro.
DEFINIÇÕES:
1. Na
própria definição de Diamond de 2013, grande pesquisadora do tema F.E. e uma
das mais citadas autoras em estudos de psicologia quando se refere às F.E., já
se observa algumas das características das funções executivas como:
- Um processo elaborado por se tratar de uma família de processos mentais tipo Top/Down, ou seja, das funções mais complexas para as basais.
- Uma ação voluntária ao se referir que você precisa se concentrar ou prestar atenção
- Que demanda um esforço para fazer algo novo ou diferente em vez de continuar fazendo o que sempre
2. Diamond (2013): funções executivas referem-se a uma família de processos mentais do tipo Top Down, necessários quando você precisa se concentrar e prestar atenção, em situações na quais continuar no automático ou depender de instinto ou intuição seria desaconselhável. Usar as Funções Executivas é um esforço; é mais fácil continuar fazendo o que você tem feito do que mudar, é mais fácil ceder à tentação do que resistir à ela, e é mais fácil seguir o “piloto automático” do que considerar o que fazer a seguir.
3. Na definição de Lezak (1995) aparece, de forma implícita, a existência de “objetivos” a serem alcançados, uma vez que a pessoa adota comportamentos de forma voluntária para ser bem sucedida em seus objetivos. Como, por exemplo, parar de comer doce após o almoço.
- Lezak (1995): As Funções Executivas consistem nas habilidades que permitem a uma pessoa se engajar com sucesso de maneira bem sucedida em comportamentos independentes e autossuficientes.
Baddley traz em sua definição, além do fator “novidade”, a questão da sequência.
- Baddley (1986): Funções Executivas são requeridas quando novos planos de ação têm de ser formulados e sequencias apropriadas de respostas tem de ser formuladas e organizadas sequencialmente.
5. Gioia
diferentemente fala de funções interrelacionadas
- Gioia et.al (1996) o termo Funções Executivas é um constructo em forma de guarda-chuva de uma série de funções interrelacionadas que são responsáveis por um comportamento direcionado a metas e solução de problemas.
6. No caso de Barkley, em 2012, acrescenta a solução de problemas e separa “o que, onde e quando” do “por que” com uma classificação de Funções Executivas quentes e Funções executivas frias. Veja:
- Barkley (2012): As Funções Executivas “frias” como memória operacional, planejamento e solução de problemas podem prover o “o que, onde e quando” da ação direcionada a metas, mas são as vias neurais da Funções Executivas “quentes” que provem o “o por que” ou as bases para escolher perseguir um objetivo em primeiro lugar e a motivação que será necessária para chegar lá.
Neste ponto, já entendemos que as funções executivas não são recrutadas quando fazemos tarefas automáticas, repetitivas. Apenas acionamos as funções executivas, quando nos dispomos ao novo.
Importante entender que o bom funcionamento das F.E. está relacionado ao melhor desempenho acadêmico, pessoal, profissional e cuidados com a saúde.
No momento da pandemia, estamos usando muito das funções executivas para agir diferente com as recomendações de saúde que inclui hábitos novos ao dia a dia. Como usar a máscara, higienizar sempre as mãos, trabalhar home-office, fazer reuniões por vídeos. Um constante estado de alerta.
AS 3 PRINCIPAIS HABILIDADES DAS FUNÇÕES COGNITIVAS
- MEMÓRIA OPERACIONAL: é a capacidade de reter a informação em mente enquanto completa uma tarefa (Gioia, 1996).
Compreendida também, por Baddley & Hittc (1994) como a capacidade de reter a informação e trabalhar mentalmente com ela ou dito diferentemente, trabalhar com a informação enquanto ela não está mais presente na percepção. Exemplo disso é quando você precisa guardar o número de um telefone, porque não tem como anotar.
A Memória Operacional envolve conforme Diamond.
- Matemática ou cálculo mental
- Relacionar ideias a outras ideias ou fatos
- Reordenar ou reorganizar itens
Memória de trabalho ou Memória Operacional não é a mesma coisa que memória de curto prazo, pois a memória Operacional envolve processamento como a manipulação da informação, associação com conteúdos armazenados na memória de longo prazo e envolve o córtex pré-frontal e o dorso lateral.
A Memória Operacional é fundamental para raciocínio e encontrar relações entre duas informações distintas.
Importante para criar uma narrativa para tudo que ocorre em um espaço de tempo seja:
Leitura >> preciso lembrar o que li no começo do parágrafo ou do capítulo para dar sentido ao que estou lendo agora e manter para dar sequência à informação para frente.
Escrita >> Se estou escrevendo um texto, a memória operacional atua tendo em conta o que eu acabo de escrever e o que eu vou escrever para frente para construir o texto
Matemática >> Principalmente na aritmética e nos problemas matemáticos que você tem que presentar atenção nos números que estão no texto para fazer um cálculo.
- Organizar uma lista de tarefas
- Seguir instruções verbais >> Pega o livro, abre na página 56 e leia o 3º parágrafo.
- Adicionar novos dados a um plano
- Encontrar caminhos >> memória operacional viso-espacial para se encontrar no espaço diante de uma instrução
- Orientar-se no espaço
Seus prejuízos provocam:
- Dificuldades e transtornos de aprendizagem (Queixa principal em crianças que chegam nos consultórios com rebaixamento da M.O.) >> dislexia ou discalculia, não quer dizer que todas as pessoas com rebaixamento da memória operacional terão dislexia ou discalculia, mas não é incomum, que uma pessoa com dislexia ou discalculia tenha o rebaixamento da memória operacional
- Dificuldades no seguimento de regras sociais (tanto adultos como crianças)
- Esquecimento e desatenção no cotidiano (Queixa principal em adultos com rebaixamento da M.O.)
2. CONTROLE INIBITÓRIO: Autocontrole e controle inibitório é a mesma coisa que é entendido como a habilidade de inibir, resistir ou não agir por impulso e a capacidade de impedir o próprio comportamento na ocasião apropriada (Gioia et al, 1996)
O Controle Inibitório varia de pessoa para pessoa e
varia na mesma pessoa conforme a idade. Ele é o responsável por diminuir a
interferência de outros estímulos na memória operacional. Precisamos inibir
pensamentos e outros estímulos para a Memória Operacional funcionar bem.
Podemos, às vezes, julgar mal algumas pessoas pelos seus atos, mas pode ser que ela tenha dificuldade de autocontrole e disciplina para inibir alguns comportamentos.
Pessoas com prejuízos de Controle Inibitório demora mais tempo para voltar para o nível basal. Demora mais para deixar de ficar chateado com algo que aconteceu ou parar de rir de uma piada, quando todos já pararam.
Pessoas com falhas de Memória Operacional e Controle Inibitório vivem com qualidade de vida inferior, uma vez que deriva do Controle Inibitório a função de autorregular comportamentos, também responsável por manter bons níveis da emoção, como a motivação para perseguir ou se manter firme em um objetivo.
O Controle Inibitório sempre será TOP/DOWN e nunca Botton Up, porque no Botton-Up existe um estímulo muito saliente e a nossa atenção é direcionada automaticamente para ele, por ser um estímulo mais relevante. Diferente do TOP/DOWN, que eu tenho que fazer um esforço para não me distrair com esse outro estímulo.
O Controle Inibitório se divide em: Controle Sobre Interferências e Autocontrole e Disciplina
- Controle sobre Interferência: Se divide em: Controle Cognitivo e Controle da Atenção
- Controle Cognitivo (nível dos pensamentos): inibir pensamentos ou memórias indesejáveis ou intrusos. “Fechar pop-ups”: ser capaz de segurar um pensamento que está entrando ou interrompê-lo para continuar dando atenção a outra coisa
- Controle da Atenção (nível da percepção): permite que de maneira seletiva prestemos atenção em um estímulo escolhido suprimindo a atenção em outro estímulo. Exemplos: a) não vou prestar atenção no cheiro do pão que o marido está assando para continuar concentrada na aula. Ou, b) vou inibir o estímulo de olhar pela janela da sala de aula, para prestar atenção na professora.
- Autocontrole e Disciplina: Inibição da resposta no nível do comportamento
É muito comum serem consideradas como pessoas preguiçosas, menos esforçadas. A autorregulação é uma predisposição inata.
A inibição de pensamentos permite que a informação fique “fresca na memória”. A informação na Memória Operacional ajuda a guiar o comportamento.
Disfunções: Transtornos do impulso (comer, jogos, internet, compras); Dificuldades de aprendizagem; Problemas de comportamento; Dificuldades atencionais e Desinibição.
3) FLEXIBILIDADE COGNITIVA
Segundo Diamond A. (2013), a Flexibilidade Cognitiva tem como aspectos, ser capaz de mudar de perspectiva, seja espacialmente ou interpessoal. Seria, ver opções diferentes (ângulos diferentes) no espaço ou ver uma determinada situação se colocando no lugar do outro, pelo ponto de vista da outra pessoa.
Também contempla a habilidade de ser flexível para se ajustar às demandas ou prioridades alternadas. Tal como admitir que estava errado ou aproveitar oportunidades que surgem de forma repentinas e inesperadas.
Importante destacar que existe sobreposição entre flexibilidade cognitiva e criatividade, alternância de tarefas e mudança de conjunto.
A Flexibilidade Cognitiva é o oposto da rigidez.
Os traços observados são a rigidez, teimosia, apego exagerado às regras. Rituais
Avalia-se por testes como Classificação de cartas de Wisconsin, Teste dos Cinco Dígitos (4ª etapa) e Subteste Compreensão escalas Wechlesr.
A reabilitação deve ser associada a reabilitação em Memória Operacional e Controle Inibitório; incentivar o paciente a ver outros pontos de vista e novas formas de resolver problemas; Jogos tipo mastermind (senha), RPG e Rummikub. Em casos de TEA pode-se aplicar o ABA+Fono+TO para garantir a generalização.
- Funções Executivas Superiores
- PLANEJAMENTO: Ações motoras (Praxias) à execução de um ato motor novo como dirigir, percorrer um caminho novo, uma coreografia
- AÇÕES LINGUÍSTICAS: pode envolver planejar uma ideia ou expô-la verbalmente ou fazer uma redação
- MULTIMODAIS: Fazer uma apresentação para a escola, seminário, congresso (envolve ideia, imagens, movimentos etc.)
- COMPLEXOS: Envolvido nos estudos científicos. Decisões sobre saúde, família, carreira, amor
ESQUEMA DE DIAMOND A. 2013
Annu. Ver. Psychol. 64:135-68
Referência para esse estudo
- Diamond A. (2013). Executivefunctions.Annualreviewofpsychology,64, 135–168. https://doi.org/10.1146/annurev-psych-113011-143750