O envelhecimento cerebral ocorre de forma diferente de pessoa para pessoa, influenciado por múltiplos fatores de ordens biológicas, psíquicas e socioculturais.

O processo de envelhecimento cerebral pode ser compreendido como aquele que se inicia desde o momento do surgimento das primeiras células neuronais no embrião, contudo, outros fatores como o acesso à escola formal e a idade em que se dá esse acesso, a cultura, heranças genéticas, a história e o estilo de vida de cada indivíduo, uso de medicamentos, doenças crônicas, a origem e raça, entre outras questões, estão correlacionadas e determinam a maneira como nossos cérebros passam pelo processo de envelhecimento.

De todo modo, considera-se que a população mundial também está envelhecendo e de forma rápida. Segundo a Organização Mundial de Saúde, em 2050 haverá 2 bilhões de pessoas idosas no mundo. Estudos mostram que o processo de envelhecimento está ainda mais acelerado em países emergentes ou em desenvolvimento, diferentemente do continente europeu que já vivenciou esse fenômeno de mudanças na pirâmide populacional.

Sendo assim, uma população mais idosa, carrega consigo o aumento do número de casos de doenças degenerativas, logo, voltamos o nosso olhar para as mudanças ocasionadas pelo processo de envelhecimento do cérebro e seus riscos, afinal, 50% das pessoas com mais de 80 anos de idade, têm risco de desenvolver sintomas compatíveis com demência. Segundo Caixeta (2012) dificuldades executivas, alterações na memória, na velocidade de raciocínio, no sono, além de distúrbios psicopatológicos e alterações nas atividades da vida diária, podem ocorrer pela susceptibilidade própria dessa fase da vida e, ainda, podem se relacionar com sintomas demenciais e depressivos.

Para nossa melhor localização, cito a definição de demência, usada internacionalmente, do DSM-IV, da Associação Psiquiátrica Americana (APA, 1994), em que demência é "a perda das capacidades intelectuais, de gravidade suficiente para interferir com o funcionamento social e profissional", sendo necessária a presença de defeito de memória e de, pelo menos, outra função cognitiva.

Dentre as demências, o Alzheimer é a doença considerada mais comum da terceira idade, sendo a 6ª causa mais importante de mortes nos EUA. 1 em cada 3 idosos naquele país morre com Alzheimer ou outro tipo de demência. Entre os sexos, a mulher tem quase o dobro de chances de desenvolver o Alzheimer e vivem mais tempo com a doença. Já os homens têm menos incidência da doença e morrem antes. E, apesar das pessoas se preocuparem mais em ter um câncer, a possibilidade de uma mulher entre 60 e 65 anos de idade, desenvolver Alzheimer é bem maior do que o câncer de mama, por exempl0.

Entre as correlações observadas envolvendo o Alzheimer e outras demências, vale destacar:

  • Traumatismo Crânio Encefálico, podem, por sua vez, acentuar a curva do envelhecimento cerebral, aumentando o declínio cognitivo em relação a outros indivíduos da mesma idade
  • Ocorrência de outras doenças cerebrais
  • Doenças crônicas com atenção para as cardiopatias
  • Raça e Etnia: Maior prevalência de Afro-americanos na faixa entre 65 e 74 anos. Hispânicos quando a faixa é de 75 a 84 anos e, novamente, Hispânicos com Afro-Americanos lideram substancialmente acima de 85 anos
  • Uso prolongado de Benzodiazepínicos


Importante reforçar que se trata de um fenômeno de fatores múltiplos que se interagem ao longo do tempo, dentre eles, podemos destacar a importância da proteína Beta Milóide por ser considerada um fator precoce que desencadeia reações neuropatológicas que levam à doença de Alzheimer. Como ela é uma proteína que se acumula fora do neurônio, sabe-se que não seria apenas sua atuação de forma isolada, mas sua interação com a proteína TAU sendo produzida dentro dos neurônios. Assim, tanto a Beta Miloide, quanto a TAU, são proteínas relacionadas ao risco de desenvolver a doença de Alzheimer. Contudo, uma diferença a ser feita é entre a condição de ter a doença e desenvolver os sintomas do Alzheimer. Uma pessoa pode ter a patologia, mas não apresentar os sintomas da doença. Essa situação quando acontece, pode ser explica por conta de conceitos como Reserva Cognitiva e Reserva Cerebral. Assim, a pessoa que tem a patologia, pode estar retardando o aparecimento dos sintomas influenciado pela Reserva Cerebral e Reserva Cognitiva.

  • Reserva cerebral (RC) é a habilidade de aperfeiçoar ou maximizar o desempenho por meio do recrutamento de redes neuronais que, por vezes, refletem o uso de estratégias cognitivas alternativas. Caixeta, 2014


Em outras palavras, a Reserva Cerebral está presente naqueles idosos que conseguem compensar parcialmente ou totalmente o declínio cognitivo acessando outras áreas do cérebro por plasticidade. De qualquer forma, a Reserva vai atuar de forma importante no retardo do início de uma demência, retardando também a progressão da doença, mas não irá evitar ou diminuir o risco de a doença seguir seu curso natural.

Contudo, sabemos que algumas pessoas mantem sua capacidade cognitiva enquanto envelhecem e outras não. Isso volta a ser explicado por conta dos múltiplos fatores, sendo que a soma deles é que irá compor um quadro de risco ou proteção. Explicando melhor, temos a informação de que 50% da variância na mudança cognitiva se deve a idade. A outra metade são fatores, que podemos tentar fazer alguma intervenção como nos casos de obesidade, diabetes, educação, tabagismo, etc. Lembrando que no fator educação, é possível trabalhar com o aumento da atividade cognitiva na meia idade, antes mesmo de um possível estágio pré-clínico para a proteção do cérebro. Quanto maior a atividade cerebral, maior será a proteção do cérebro. Bem como, atuar com o aumento das atividades físicas, combate ao consumo de álcool, melhorar a qualidade do sono e da dieta alimentar. Para todos esses fatores existem estudos correlacionando a influência direta no envelhecimento cerebral (se mais ou menos saudável), ou seja, com maior ou menor declínio cognitivo ao passar dos anos.

Uma conclusão importante: Olhar para todos os fatores sabendo que não existe um sistema compensatório em que um fator compensará outro. Ou melhor, quanto mais fatores positivos combino ao longo da vida, mais protegido estará o cérebro. Um alto investimento em apenas um ou poucos fatores, não irá suprir a necessidade dos demais.



Referências:

  1. Neuropsicologia [recurso eletrônico] : teoria e prática / Organizadores, Daniel Fuentes ... [et al.]. – 2. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2014.
  2. Neuropsicologia Geriátrica - Neuropsiquiatria Cognitiva em Idosos. Caixeta, L., Teixeira, A.L. 5. Ed. Artmed, 2014.